TRAÇOS SONOROS

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Evandro Archanjo e Elisa Grossi

 

 

Sempre impressionado pela vivacidade dos traços da artista e amiga Elisa Grossi,

tecemos agradáveis conversas sobre as pesquisas e histórias que norteiam o cotidiano de nossa arte.

 

Assim, nos unimos nesses Traços Sonoros para contar com imagens um pouco do que buscamos no tempo e nos livros,

nas memórias lúdicas do que já ouvimos e do que ainda precisávamos ver.

 

As recepções na casa de Chica, a chegada dos instrumentos na cidade,

a esperança do progresso no garimpo e na indústria, um circo fabulesco, personagens que queríamos conhecer.

 

As diásporas que trouxeram aos velhos caminhos a renovação.

Tudo isso é som. Tudo isso é vida que vibra. Tudo isso são imagens e poesia.

 

Evandro Archanjo

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(clique para ampliar)

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Dê o play na playlist abaixo "Traços sonoros" para ouvir os poemas que acompanham cada quadro. Textos e narração: Evandro Archanjo

Elisa Grossi é uma artista visual brasileira mestiça, que sente e expressa as várias etnias que construíram e moldaram seu corpo e pensamentos. Da cidade de Diamantina — patrimônio cultural da humanidade — seus trabalhos coloridos e dinâmicos expressam marcas dos povos que habitam seu viver, como as matriarcas que se assentam em suas obras, recatadas ou profanas. Juntas, sempre demonstram força vital nos pontos de tensão, seja por meio da transgressão ou de um régio exercício de indulgência. A música também aparece forte em suas telas, principalmente, nestas criadas em especial para o Festival de Música Histórica de Diamantina.

 

Nas décadas de 1980 e 1990, a contemporaneidade invade as telas de Elisa Grossi, numa simbiose das suas experiências da infância, influenciadas pelas contadoras de histórias descendentes de famílias vindas da região do Minho em Portugal e das remanescentes dos malungos — irmãos de barco — e seus causos sobre o norte da África, lutas e dores para chegar ao Brasil, transpondo o oceano em navios negreiros.

 

Essas memórias de infância e o culto às contadoras de histórias de origens ibérica e norte-africana desnudam o profano e o sagrado, delineando suas telas com a opressão e a superação que desvelam a própria cultura brasileira.

 

A partir do ano de 1993, Elisa Grossi inicia sua peregrinação por Minas Gerais, passando a engajar-se na arte conceitual, criando figurinos e adereços para festas folclóricas como escolas de samba, bandas carnavalescas, festas religiosas do Divino, Rosário, Candomblé, Congado, bem como criação e elaboração de costumes para peças teatrais e espetáculos de dança contemporânea, afro e clássica (ballet). Neste período, a artista consolida mostras de desenho sobre pintura, usando imagens contemporâneas da ambiguidade urbana com figuras inspiradas em ícones e mitos da história mineira e mundial.

 

A proposta central da artista é narrar histórias em seus quadros por meio da desconstrução do posicionamento de imagens. Suas obras perpassam as habilidades exercidas ao longo de sua caminhada de 75 anos: pintura, desenho, rasgadura, colagem, texto e bordado. Aventura-se com diferentes suportes e por lugares atípicos, conferindo genuíno dinamismo em seus trabalhos, que concebe relações diferentes com os espaços.

 

Para Elisa Grossi a ênfase do processo criativo das telas desta Exposição é um ofício de convicção inspirado nos textos poético-históricos e pesquisas do músico Evandro Archanjo. As telas na técnica desenho sobre pintura mostram a transitoriedade para levar em frente o que se idealiza. As imagens das telas surgem retiradas do denso “caldo” cultural da musicalidade diamantinense e do seu cenário. Em suas propostas pictóricas, a amálgama de igrejas, sobrados, elementos de arquitetura contemporânea, ruas, janelas e varandas aliam-se a seus personagens em todos os planos. Todos são protagonistas e coadjuvantes, sujeitos e objetos, ícones e símbolos.